Fala do Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia na Abertura dos Trabalhos de Avaliação do MEC

"Fala do Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, UFBA, na Abertura dos Trabalhos de Avaliação do MEC para Renovação de Reconhecimento do Curso de Medicina – 9 de abril de 2025. 
 
Local: Sala da Diretoria da Faculdade de Medicina da Bahia – Centro Histórico de Salvador
 
Bom dia a todas e todos.
 
Magnífico Reitor, Professor Paulo César Miguez de Oliveira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação, Professora Nancy Rita Ferreira Vieira; Coordenadora do Colegiado do Curso de Medicina, Professora Maria Ermecilia Melo; colegas professores; e, em especial, saúdo com respeito e entusiasmo os Professores Paulo Cesar Moreira, da Universidade Federal de Goiás, e Marta Maite Sevillano, da Universidade Federal de São Paulo, avaliadores designados pelo INEP/MEC – sejam muito bem-vindos à Faculdade de Medicina da Bahia.
 
É uma grande honra recebê-los em nossa casa nesta visita de avaliação para renovação de reconhecimento do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia.
 
Como Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), reafirmo o nosso compromisso com a formação médica de excelência, fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais de 2014 e sintonizado com a realidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Buscamos formar médicos com formação geral, humanista, crítica, reflexiva e ética, capazes de atuar com competência em todos os níveis de atenção à saúde, desde a atenção básica até a alta complexidade, respondendo às necessidades de saúde da população brasileira. Esse compromisso com as DCNs 2014 e com o SUS orienta todas as nossas ações acadêmicas, pedagógicas e institucionais, assegurando que a educação oferecida aqui esteja alinhada às políticas de saúde e ao contexto social em que nossos futuros médicos atuarão.
 
Para concretizar esse compromisso, nosso Projeto Pedagógico do Curso (PPC) está alicerçado em três pilares (dimensões) fundamentais: Organização Didático-Pedagógica, Corpo Docente e Tutorial, e Infraestrutura. Permitam-me destacar brevemente cada um deles:
 
Começando a falar pela Organização Didático-Pedagógica, nosso currículo é estruturado de forma integrada, fundamentado em um conhecimento médico sólido e continuamente atualizado, que assegura o desenvolvimento de competências para a atuação em todos os níveis de atenção à saúde. Valorizamos, igualmente, a formação de atitudes éticas, humanísticas e o compromisso com a educação continuada e com práticas clínicas baseadas nas melhores evidências científicas.
 
Desde os primeiros semestres, promovemos a integração entre teoria e prática, com a inserção progressiva dos estudantes nos cenários reais do SUS. Privilegiamos as metodologias ativas de ensino, que estimulam a participação crítica e reflexiva, a interdisciplinaridade e o protagonismo discente no processo de aprendizagem. Essa abordagem pedagógica fortalece a capacidade dos nossos estudantes de compreender e intervir nas complexas realidades de saúde da população, garantindo à nossa formação tanto excelência acadêmica quanto relevância social.
 
Além disso, desenvolvemos atividades integrativas, como as sessões anátomo-clínicas, que articulam a discussão de achados clínicos com a análise de exames de imagem e de peças anatomopatológicas advindas de necropsias ou biópsias, e os journal clubs, que partem de cenários clínicos reais para suscitar nos estudantes dúvidas pertinentes e questões relevantes da prática médica. Essas atividades estimulam a busca ativa por conhecimento, por meio da pesquisa na literatura científica, geralmente usando o PUBMED, a seleção de artigos mais adequados para responder a questão e a análise rigorosa dos métodos, resultados e aplicabilidade clínica. Dessa forma, promovemos uma formação que integra raciocínio clínico, pensamento científico e tomada de decisão baseada em evidências – competências essenciais para o exercício da medicina contemporânea.
 
Diversas estratégias são utilizadas ao longo do curso para o ensino e o estímulo ao raciocínio clínico diagnóstico e terapêutico, com enfoque reflexivo. Nesse sentido, desde a disciplina de Clínica Médica até o internato, adotamos o modelo de prontuário orientado por problemas, proposto por Lawrence Weed, como instrumento integrador entre o ensino e a prática clínica. Os estudantes também aprendem a utilizar o modelo SOAP – um formato estruturado de evolução clínica, onde os estudantes expressam suas impressões diárias e elaboram planos diagnósticos, terapêuticos e educacionais. Além disso, são orientados a identificar e evitar vieses cognitivos, com o objetivo de prevenir erros diagnósticos e fortalecer a capacidade de tomada de decisão clínica baseada em evidências.
 
Gostaria de destacar o aprendizado em saúde da família. O papel estratégico do Internato em Saúde da Família, representa um pilar fundamental do ensino médico na Faculdade de Medicina da Bahia integrado aos serviços de Atenção Primária à Saúde. Este componente curricular ocorre em territórios assistidos por Unidades de Saúde da Família (USF), nas quais os estudantes são inseridos em equipes multiprofissionais, atuando de forma direta e contínua no cuidado à comunidade.
 
Essa vivência permite que os internos compreendam de forma aprofundada os determinantes sociais da saúde e os princípios do SUS – universalidade, equidade e integralidade. Eles realizam consultas supervisionadas, visitas domiciliares, ações de vigilância e atividades coletivas de promoção e prevenção, desenvolvendo habilidades como comunicação clínica, abordagem familiar, raciocínio clínico contextualizado e coordenação do cuidado.
 
O Internato em Medicina Social, voltada à Atenção Primária, é desenvolvido sob a coordenação do Departamento de Medicina Preventiva e Social. Alinhado às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos princípios da Política Nacional de Atenção Básica, esse componente curricular promove a formação prática dos estudantes nos territórios onde atuam Unidades de Saúde da Família (USF), inserindo-os em equipes multiprofissionais e nos processos reais de cuidado, vigilância e gestão em saúde. O internato está presente em diversas regiões de Salvador, como nos Distritos Sanitários da Barra-Rio Vermelho e de Pau da Lima, além de experiências em área rural na Chapada Diamantina e parcerias históricas com municípios do interior baiano. Em todos esses cenários, os estudantes desenvolvem atividades de promoção, prevenção e educação em saúde, planejamento e avaliação em saúde coletiva, com foco em populações prioritárias e agravos prevalentes, como hipertensão, diabetes, saúde do trabalhador, condições dermatológicas e saúde mental.
 
As atividades incluem registros reflexivos de vivências, discussões de casos com docentes de áreas focais, e projetos de cooperação com as equipes locais, voltados à qualificação do cuidado e da gestão. Os estudantes são estimulados a compreender os determinantes sociais da saúde, a atuar com empatia e responsabilidade sanitária, e a construir planos terapêuticos centrados na pessoa e baseados em evidências, evitando intervenções desnecessárias. Essa vivência permite uma formação ética, crítica e socialmente comprometida, consolidando o vínculo entre ensino, serviço e comunidade.
 
Corpo Docente e Tutorial: No que se refere ao pilar Corpo Docente e Tutorial do Projeto Pedagógico do Curso de Medicina contamos com um quadro de docentes altamente qualificados. Muitos de nossos professores possuem titulação de mestrado, doutorado nos melhores programas de pós-graduação do país e exterior e vasta experiência nas suas áreas, além de estarem engajados em extensão e pesquisa, alguns como bolsistas de produtividade do CNPq. Eles atuam não apenas como transmissores de conhecimento, mas como tutores e mentores, acompanhando de perto o desenvolvimento dos estudantes. Investimos continuamente na capacitação pedagógica de nossos docentes em jornadas pedagógicas semestrais.
 
Infraestrutura: Falando agora do terceiro pilar do nosso Projeto Pedagógico, sabemos que a excelência no ensino também requer condições materiais adequadas. Além da sede mater localizada no Centro Histórico, a Faculdade de Medicina da Bahia conta com o Anexo I - Dra. Rita Lobato Velho Lopes. Algumas disciplinas são também são ministradas no Instituto de Ciências da Saúde, Instituto de Biologia e Instituto de Saúde Coletiva. Dispomos de salas de aula equipadas com recursos multimídia, laboratórios modernos de habilidades e simulação, bibliotecas atualizadas e acesso a bases bibliográficas de qualidade. Dispomos também do laboratório de habilidades da Escola de Enfermagem Nossos estudantes realizam atividades práticas em diversos cenários, incluindo unidades de saúde da rede SUS o Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos, a Maternidade Climério de Oliveira e o Ambulatório Materno-Infantil Nelson Barros localizado na sede mater da Faculdade de Medicina da Bahia. Criado em 10 de agosto de 2007, o Ambulatório Materno-Infantil Professor Nélson Barros é uma unidade docente-assistencial coordenada por docente do Departamento de Pediatria. Através de cooperação técnica com a SMS de Salvador, tem sido possível disponibilizar uma equipe de Saúde da Família para a comunidade do Centro Histórico, garantindo assim a oferta de consultas, procedimentos, dentro os quais realização de curativos e vacinação, além de atividades educativas realizadas tanto pela equipe quanto pelos docentes dos Departamentos de Pediatria e do de Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Humana, os quais desenvolvem atividades curriculares de graduação na Unidade. Os componentes curriculares que exercem atividades no referido espaço são: Módulo de Pediatria (MED B44), oferecido no sétimo semestre; Internato I e II de Pediatria (MED 231 e 245, quinto e sexto anos do curso médico); e Ginecologia e Obstetrícia (MED B55).
 
Outra dimensão crucial da nossa proposta pedagógica são os métodos de avaliação adotados no curso. Priorizamos avaliações formativas e abrangentes, que permitam acompanhar o progresso do aluno e garantir a aquisição das competências exigidas ao médico. Destaco dois métodos inovadores que implementamos: o Teste de Progresso e a Avaliação Clínica Estruturada e Objetiva (OSCE). O Teste de Progresso é aplicado semestralmente a todas as turmas, permitindo medir a evolução cognitiva dos estudantes ao longo dos anos de curso. Com essa ferramenta, conseguimos identificar pontos fortes e fragilidades na formação, tanto no nível individual quanto no coletivo, retroalimentando o currículo e orientando intervenções pedagógicas. Já a OSCE – a Avaliação Clínica Estruturada e Objetiva – foi incorporada para avaliar de forma prática e padronizada as habilidades clínicas sendo usada atualmente no início do internato. Por meio de estações clínicas simuladas, com situações reais da prática médica, conseguimos verificar competências em exame físico, comunicação, raciocínio clínico e tomada de decisão. Essa avaliação objetiva garante que nossos futuros egressos não só detenham conhecimentos teóricos, mas saibam aplicar na prática clínica, com segurança e ética, tudo o que aprenderam. Ambos os instrumentos – Teste de Progresso e OSCE – estão em consonância com as melhores práticas da educação médica atual e reforçam nosso compromisso com a qualidade e a excelência na formação.
 
O Núcleo de Apoio Psicopedagógico da Faculdade de Medicina da Bahia (NAPP) é uma instância de apoio psicológico, pedagógico e social ao curso de graduação; oficialmente constituído pela Portaria 18/2012, da diretoria da FMB. A equipe é formada por duas psicólogas e uma assistente social, uma técnica de assuntos educacionais contando com a colaboração de uma pedagoga do Colegiado de Graduação e professores do curso. O nosso projeto político pedagógico inclui também no processo ensino-aprendizagem uma política de tutoria acadêmica composta por professores para ser exercida em todos os semestres do curso. treinados para essa função, dependendo da atividade.
 
Gostaria de enfatizar, ainda, que a inclusão é um valor institucional inegociável para a Faculdade de Medicina da Bahia. Temos orgulho de, nos anos recentes, termos aproximado o perfil sociodemográfico de nossos estudantes ao perfil da população baiana. Graças às políticas afirmativas implementadas na UFBA – como o sistema de cotas para estudantes oriundos de escolas públicas, negros, indígenas e de baixa renda – hoje nosso corpo discente é muito mais diverso e representativo. Vemos em nossas salas de aula uma crescente presença de jovens negros e negras, estudantes indígenas, e de diferentes contextos socioeconômicos. Mas não basta incluir, é preciso garantir a permanência e o sucesso desses estudantes. Para isso, a UFBA implementa sólidas ações de permanência acadêmica: oferece bolsas de auxílio e apoio financeiro àqueles em vulnerabilidade socioeconômica. Além disso a Faculdade de Medicina formalizou convênios com a Fundação Sophia Zaveri garantindo a concessão de 10 (dez) bolsas para estudantes que desenvolvem projetos vinculados a ações de compromisso social, sob orientação de um servidor ou professor.
 
Nossa preocupação com a inclusão e a equidade também se materializa em iniciativas pioneiras de estudo e pesquisa. Um exemplo marcante é a criação do Centro Internacional de Estudo e Pesquisa da Saúde da População Negra e Indígena (CIEPNI), recentemente instituído em nossa faculdade. Trata-se de um núcleo dedicado a investigar questões de saúde específicas das populações negra e indígena, produzindo conhecimento científico que possa subsidiar políticas públicas e práticas de saúde mais inclusivas e efetivas. O CIEPNI coloca a FMB na vanguarda dos estudos sobre determinantes sociais da saúde e disparidades étnico-raciais, conectando-nos com redes internacionais de pesquisa e evidenciando nosso compromisso com a inovação e a responsabilidade social. Essa iniciativa reforça que, embora tenhamos uma história longínqua, continuamos atentos às demandas contemporâneas da sociedade: queremos ser agentes de transformação, combatendo o racismo e outras iniquidades em saúde através da educação dos nossos alunos e da geração de conhecimento.
 
A Faculdade de Medicina da Bahia tem uma relevância histórica e social singular. Somos a primeira e mais antiga escola médica do Brasil, com 217 anos de tradição dedicados à formação de médicos e ao cuidado com a saúde da população. Por aqui passaram figuras que marcaram a medicina e a ciência brasileiras, e construímos, um legado de excelência, liderança e serviço à sociedade. Mas o que nos define, hoje, não é apenas o peso da história, e sim a maneira como usamos essa herança para projetar o futuro. Orgulhamo-nos de nosso passado, porém estamos de olhos voltados para o futuro, comprometidos em inovar, incluir e servir. Esta faculdade centenária renova-se constantemente: atualizamos nosso currículo, incorporamos novas tecnologias educacionais, estimulamos a pesquisa de ponta e mantemos um diálogo permanente com as transformações do mundo contemporâneo. Tudo isso sem jamais perder de vista a nossa missão maior: formar médicos de excelência técnica e científica, dotados de empatia, senso crítico e profundo compromisso social.
 
Antes de concluir minha fala, gostaria de destacar o papel pioneiro da Faculdade de Medicina da Bahia no avanço do conhecimento científico e na formulação de políticas públicas nacionais nas áreas da saúde e da educação. Na área das doenças infecto-parasitárias, como a esquistossomose e a leishmaniose, importantes contribuições foram feitas por professores-cientistas de destaque, como Zilton Andrade e Heonir Rocha, cujos estudos impulsionaram avanços expressivos no conhecimento médico e na saúde pública.
 
Também em outras áreas, como a da doença falciforme, a FMB se destacou com contribuições relevantes. Foi o professor Jessé Santiago Acioly Lins que, em 1947, ainda como estudante de medicina, descreveu aspectos fundamentais da hereditariedade e da fisiopatologia da doença falciforme, antecipando conhecimentos que mais tarde seriam confirmados internacionalmente.
 
No campo da saúde coletiva, professores da Faculdade de Medicina da Bahia também desempenharam papéis centrais. Destaco o professor Jairnilson Silva Paim, então docente do Departamento de Medicina Preventiva, que, juntamente com outros colegas do departamento e do recém-criado, à época, Instituto de Saúde Coletiva, teve atuação decisiva na concepção e na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), um marco histórico da saúde pública brasileira.
 
Além disso, iniciativas inovadoras originadas na FMB influenciaram políticas institucionais de grande impacto nacional, como a criação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e a formulação de ações afirmativas no âmbito da UFBA – incluindo as políticas de cotas raciais e sociais – bem como a implementação do Programa de Assistência Estudantil (PROAE).
 
Finalizo dizendo que recebemos a comissão de avaliação com espírito aberto e colaborativo. Estamos confiantes de que esta visita do INEP/MEC será uma oportunidade valiosa de reflexão e aprimoramento do nosso curso. Colocamos à disposição dos avaliadores, Professores Paulo Cesar e Marta Maite, toda a documentação, instalações e equipes para evidenciar, com transparência, o trabalho sério que aqui realizamos. Fiquem à vontade para conhecer nossos projetos, dialogar com nossos estudantes e professores, e apontar caminhos para que possamos melhorar ainda mais.
 
Em nome da Faculdade de Medicina da Bahia, agradeço a presença de todos e reforço as boas-vindas aos avaliadores. Ǫue tenhamos dias produtivos.
 
Muito obrigado.
 
 
Salvador, 9 de abril de 2025
 
 
Professor Antonio Alberto da Silva Lopes Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia"