Pronunciamento do Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) sobre a suspensão do curso de Medicina do programa de Bacharelado Interdisciplinar (BI) da Universidade Federal da Bahia


Como Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), considero necessário esclarecer os pontos levantados na nota publicada no Jornal Correio sobre a decisão do Conselho Acadêmico de Ensino (CAE) de suspender por três anos a oferta de vagas do curso de Medicina para a seleção interna que ocorre no programa de Bacharelado Interdisciplinar (BI), com vigência para os novos ingressantes neste curso a partir de 2025. Quero deixar claro que considero extremamente necessária esta suspensão considerando a situação dramática que se encontra a Faculdade de Medicina da Bahia.


Em primeiro lugar, a afirmação de que a retirada das vagas do curso de Medicina do projeto pedagógico do BI possa afetar as políticas afirmativas e a inclusão na universidade é incorreta e desprovida de fundamento. Vale ressaltar que, em ambas as formas de acesso — tanto pelo SISU quanto pelo processo seletivo interno via BI — 50% das vagas são destinadas às cotas, sendo 64 vagas pelo SISU e 16 pelo BI (Lei 14723/2023). Portanto, o compromisso com a inclusão e com as políticas afirmativas está garantido, com ou sem a alocação de vagas de Medicina para o processo seletivo interno para concluintes do BI. Vale ressaltar também que os estudantes que se encontram no curso (ingressantes no BI até 2024) permanecem com o seu direito assegurado, dentro das normas da UFBA. Como diretor da Faculdade de Medicina e defensor incansável das políticas de ações afirmativas, reitero que a inclusão social e a democratização do acesso são pilares fundamentais da nossa instituição.


Gostaria que fosse observado, que um grande problema que as vagas para o curso de Medicina via BI têm gerado é o número crescente de medidas judiciais, obrigando a UFBA a acolher um grande excesso de estudantes no curso de Medicina nos últimos quatro anos, sob pena de multa diária. Esse aumento imprevisível no número de estudantes compromete diretamente a qualidade do ensino, afeta a alocação de recursos e gera uma sobrecarga insustentável nas nossas estruturas administrativas e nos campos de prática, prejudicando a saúde de alunos, professores e técnico-administrativos que trabalham para prevenir comprometimento ao atendimento dos pacientes que necessitam de cuidados de saúde nos hospitais e ambulatório ligados à Faculdade de Medicina. Esses fatores levaram o CAE, de forma ponderada e com base em dados concretos, e de acordo com suas competências, responsabilidades e o estatuto vigente da UFBA, a aprovar a suspensão de vagas para futuros ingressantes no BI, sem prejuízo para os que ora se encontram no curso.


Lamento que a reportagem publicada no Jornal não tenha mencionado esses aspectos críticos que afetam diretamente a capacidade de a Faculdade de Medicina continuar oferecendo um ensino de excelência e cuidados à saúde da população. A decisão do Conselho Acadêmico de Ensino não foi tomada de forma arbitrária, mas sim com o objetivo de preservar a qualidade do ensino no curso de Medicina, ao mesmo tempo em que buscamos soluções para mitigar os efeitos das judicializações que desorganizam todo o processo de ingresso e distribuição de vagas.


Finalmente, reafirmo que a Faculdade de Medicina permanece aberta ao diálogo na busca de melhores condições de ensino. No entanto, é imprescindível que este debate seja baseado em fatos e na realidade que enfrentamos.

Salvador, 11 de outubro de 2024

Prof. Dr. Antonio Alberto da Silva Lopes
Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, UFBA